Linha 102
Atrasada por conta da
demanda de serviço, correu para não perder o ônibus, entrou no exato segundo em
que a porta já começava a fechar-se e ficou algum tempo ali nos degraus
espremida entre os demais passageiros. O dia foi cansativo e tudo o que ela
queria era chegar logo em casa e descansar, naquela lotação, mal podia observar
as janelas que mesmo que estivessem abertas não davam conta de aliviar aquele
abafamento. A cada parada o cobrador pedia que todos dessem um passinho à
frente, naquele aperto um homem tirava vantagem da situação, incomoda ainda
tentou se esquivar sem muito sucesso. Na parada seguinte ela alcançou a roleta
estranhou que cobrador não era o mesmo, mas pensou que ele pudesse estar de
folga ou doente, pagou a passagem com os últimos trocados que tinha no bolso, o
valor exato da viagem e ficou ali tentado se segurar nas barras de apoio em
meio ao corredor. Percebeu que dois jovens que estavam sentados conversavam
distraidamente enquanto ao seu lado uma mãe em pé se equilibrava com filho e as
sacolas nos braços. Uma moça sentada no banco ao lado fingia não perceber a
situação. Ofereceu-se para ajudar a segurar às sacolas a mãe agradeceu e disse
que desceria no próximo ponto. O sol já havia se posto e um breu noturno se
espalhava pela noite afora, foi o que percebeu quando enfim pode olhar pelas
janelas. Um banco vagou a sua frente, cansada ela se sentou para seguir viagem,
mais alguns passageiros desembarcaram estranhou que não reconhecesse ninguém sempre
pegou o mesmo ônibus no mesmo horário. Voltou a olhar pelas janelas, apesar do
escuro que se intensificava com a cerração de inverno percebeu que o trajeto
não era o mesmo foi até o motorista, mas de mau humor ele se limitou a apontar
uma placa de advertia: “Não fale com o motorista”, já angustiada voltou pelo
corredor e perguntou ao cobrador, que revisava o seu caixa, se aquela era a
linha 101. Ele disse que não, essa era a 102. Tomada por um desespero mal
podia acreditar no que estava acontecendo. Sua casa ficava do outro lado da
cidade e ela não atinava ideia de como retornar. Exausta e distraída, andava sem cabeça e
agora não sabia se ainda teria pernas para compensar. Atônita aciona a parada e
desce, só quando o ônibus parte é que ela se dá conta que desembarcou sem sua bolsa.
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