Lição Materna


Tinha quinze anos quando saiu de casa, mal se despediu de seus pais e irmãos, não eram dados a afetividades. Lembrava-se das severas e ameaçadoras recomendações de sua mãe para que trabalhasse direito, não pretendiam acolhe-la de volta caso fosse dispensada do serviço, o pai amargo e calado como sempre apenas lhe dirigiu um olhar rígido e seco enquanto prepara um cigarro de palha sentado a um canto da varanda.  Algumas irmãs a invejavam por pensar que ela agora era livre, outras tentavam imaginar seu destino saindo de casa tão cedo. Ela não sabia o que esperar, esperou o ônibus e partiu.
A cidade era um mundo à parte, desconhecido, instigante e por vezes assustador. A solidão era abafada pelo excesso de trabalho, canções de rádio e lembranças de casa. Era acostumada a calar ao invés de queixar-se, servir com resignação e obediência, aceitando que a vida era essa e que a providência divina, segundo sua devoção, se encarregaria do resto. Mas Deus devia estar muito ocupado para conceder-lhe bênçãos, restando a ela prosseguir em suas penitencias.
Certo dia arranjou um namorado e com ele o primeiro filho, não seria a primeira nem a última mãe solteira num mundo de abandono.  Suas dores se complicariam ainda mais depois do parto. Como prover a um filho aquilo que nunca teve? E jamais teria. Revolta, angústia e desespero. O que para muitas era um sonho para ela um pesadelo dentro de sua real e malfadada condição de vida.
Porém um filho renova às esperanças, e viver passa a ser uma teimosia, resinificando a condição de estar no mundo. Se a jornada agora era dupla, às forças também eram redobradas e a criança cresceria forte e saudável, na medida do possível, vencendo as doenças, os perigos e a pobreza. Sonho de mãe é ver seu filho descente, de cabeça erguida e olhar confiante. Tudo isso ela sonhava ao amamentar sua cria.
Talvez por isso foi acometida de um choro inconsolável quando seu primeiro filho recebeu seu diploma universitário, único na família, suas lágrimas de alegria misturavam-se com lágrimas de alívio por anos de sofrimento, privações e incertezas. Uma vida de abdicações, cansaço e por vezes incompreensão, não fora a melhor mãe do mundo é bem verdade, estava longe disso, mas assumira a maternidade com certa dose de coragem e muita resignação, o certo é que agora, naquele instante de coroação do filho quem se sentia igualmente coroada era ela que mal terminara o fundamental, mas que havia aprendido coisas que livro nenhum poderia lhe ensinar.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Luta Corporal