O caminho das Índias passa por aqui
Esta crônica foi feita na época da novela Caminho das Índias e retrata algumas das similitudes entre Índia e Brasil no que tange ao preconceito e a discriminação social.
_ Pois é rapaz, eu depois de acompanhar
alguns capítulos da novela das oito, não por opção, mas por falta dela, já que
neste horário quem detém o mando inquestionável do controle remoto é minha
mulher, ando pensando nesse negócio de castas que tem lá na Índia.
_ Ah é...
_ É, acho que nós aqui no Brasil não vivemos muito diferente daquela gente das índias.
_ Pois eu discordo, onde já se viu vivermos como aquele povo sujo e bagunçado. Você já viu o que é o trânsito naquele lugar?
_ Bom, trânsito por trânsito, acho até que proporcionalmente o nosso mata mais que o deles, mas não é só em relação ao trânsito que me refiro, falo também sobre a questão da desigualdade que enfrentamos.
_ Espera aí, não vamos comparar, vivemos num país democrático, ou o voto de um vale mais que o do outro? Vale!? Claro que não! Ainda que eu ache que esse bando de pés rapados, essa multidão de gente ignorante, assistida pelo governo e que vive a nossas custas, vendendo seu voto por um quilo de farinha e uma garrafa de pinga, não mereça votar, seu voto de cabresto vale a mesmíssima coisa que o meu e o teu que somos pessoas esclarecidas e bem informadas.
_ Mas é justamente sobre isso que estou falando, sobre direito e igualdade...
_ O quê? Você vai insistir que somos iguais aos indianos. Então me diga uma coisa, quem escolheu sua mulher? Foi você ou seu pai?
_ Fui eu claro, mas o que quero dizer não é bem isso...
_ Então não me venha com essas comparações, deixa eu te falar uma coisa, esse negócio de desigualdade é discurso de oposição que cai no esquecimento quando vira situação, entendeu.
_ É provável, mas... talvez a questão não seja apenas política.
_ Bom, política ou não política o assunto não me interessa. Eles lá e a gente cá cada um com os seus problemas.
_ É, acho que nós aqui no Brasil não vivemos muito diferente daquela gente das índias.
_ Pois eu discordo, onde já se viu vivermos como aquele povo sujo e bagunçado. Você já viu o que é o trânsito naquele lugar?
_ Bom, trânsito por trânsito, acho até que proporcionalmente o nosso mata mais que o deles, mas não é só em relação ao trânsito que me refiro, falo também sobre a questão da desigualdade que enfrentamos.
_ Espera aí, não vamos comparar, vivemos num país democrático, ou o voto de um vale mais que o do outro? Vale!? Claro que não! Ainda que eu ache que esse bando de pés rapados, essa multidão de gente ignorante, assistida pelo governo e que vive a nossas custas, vendendo seu voto por um quilo de farinha e uma garrafa de pinga, não mereça votar, seu voto de cabresto vale a mesmíssima coisa que o meu e o teu que somos pessoas esclarecidas e bem informadas.
_ Mas é justamente sobre isso que estou falando, sobre direito e igualdade...
_ O quê? Você vai insistir que somos iguais aos indianos. Então me diga uma coisa, quem escolheu sua mulher? Foi você ou seu pai?
_ Fui eu claro, mas o que quero dizer não é bem isso...
_ Então não me venha com essas comparações, deixa eu te falar uma coisa, esse negócio de desigualdade é discurso de oposição que cai no esquecimento quando vira situação, entendeu.
_ É provável, mas... talvez a questão não seja apenas política.
_ Bom, política ou não política o assunto não me interessa. Eles lá e a gente cá cada um com os seus problemas.
_ E para você, quais seriam os nossos
problemas?
_ No momento o meu problema é ter
pagado ao flanelinha para estacionar meu carro não sei onde, e antes de chegar ao restaurante e ter que
dar uma esmola para me livrar de um desgraçado de um pedinte e, ao final deixar
mais dez por cento ao garçom só porque ele cumpriu com sua obrigação. Desse
jeito não há cristão que aguente! Esse é o meu problema.
_ Pois é, acho que este também é o
deles.
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