As idas e vindas do amor


Tudo começa com uma troca de olhares, e neste instante, mágico para alguns mais românticos, temos a sensação de que pode estar ali a nossa cara metade, a tampa da nossa panela, o chinelo que mesmo meia sola parece na medida para nossos pés já cansados, rachados ou até com chulé.
Então, pulamos de cabeça, ainda que alguns mais receosos entrem na ponta dos dedos, o que é uma prevenção inútil, já que inevitavelmente acabamos por mergulhar por inteiro no caudaloso lago da paixão e onde terminamos por nos afogar num mar de lágrimas e destilados que nos é servido com placebo sobretaxado na penumbra de um bar de baixa classe na vida boêmia de qualquer periferia da cidade.
Num primeiro momento do nosso conto de fadas o sexo é ardente e a tolerância eterna, o que ameniza rusgas e desavenças eventuais. O ser amado beira a perfeição, e se não leva auréola é porque não é dado aos santos o direito de amar como a nós seres de carne e sangue.  A paixão é indicada para altos níveis de estresse, em doses contínuas e homeopáticas pode levar a cura ou a loucura.
Mas tudo o que é bom, dura pouco, e para isso não se tem remédio. Um dia de repente, não muito, a gente descobre no outro pequenas imperfeições, coisas miúdas e isso passa a nos incomodar como uma dorzinha que vai chegando e vai ficando, ainda sem latejar. Com o tempo o incomodo vai crescendo, crescendo até se tornar crônico, e quando percebemos já estamos pagando terapia, quando não pensão. O amor custa caro.
 _“Como pode insistir em algo tão estúpido, já falei mais de mil vezes, só pode estar fazendo isso para me provocar. Ah, mas se é guerra que se quer é guerra que se vai ter”. E eis que começa uma nova saga, um longo e desgastante confronto entre dois egos que disputam a razão, mas que só caberá a ambos após muitas e estafantes batalhas o sofrimento, a desilusão e a amarga conquista da solidão.
 Passado algum tempo, a guerra se transforma trégua e passamos a reconhecer algumas pequenas falhas e admitir certos exageros afinal de contas quando um não quer dois não brigam e motivados pela ausência ou demência percebemos que no fundo a pessoa tão odiada, continua sendo a mais amada, paradoxos do amor, que é sempre cego e eventualmente guiado pela esperança o medo ou a burrice.

Então tudo recomeça, com uma troca de mensagens, pedidos de desculpas e juras de amor eterno que duram a eternidade do instante, é hora de fazer as pazes, esquecer as mágoas e reatar o romance, até lá, a floricultura, aquele restaurante charmoso e o cinema ampliarão seu faturamento, enquanto o boteco de baixa classe pacientemente espera pela volta da clientela.  

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