Vocábulos
Vocábulos
"As palavras nascem saudáveis e livres, crescem vagabundas e elásticas, vivem informes, informais e dinâmicas, Morrem quando contraem o câncer do significado definitivo "
Millôr Fernandes
"Comecei a não gostar de palavra engavetada. Aquela que não pode mudar de lugar. Aprendi a gostar mais das palavras pelo que elas entoam do que pelo que elas informam"
Manoel de Barros
Prefácio
Quais são as palavras que você mais usa? As mais importantes? As mais belas? As mais ousadas? As impronunciáveis publicamente? Que sentido elas fazem para você? Como elas ecoam à sua volta? Como elas habitam o seu mundo? As palavras nos definem, nos cativam e nos alimentam de vida e sonhos.
No dicionário comum elas ganham sentido pragmático, usual, delimitado, mas quando distribuídas em livros de ficção ou poesia as palavras se desnudam, mudam de roupa e saem linha afora, costurando parágrafos, ideias, sensações, descobertas e encontros.
As palavras estão na boca do povo, no sussurro dos amantes, nos versos do poeta, na gênese do mundo e no fim de cada parágrafo dedicado a narrar a vida humana e as suas mais profundas ou singelas sentimentalidades.
autor
a
Abrir, um livro, um sorriso, uma janela, o coração.
Abraço, a melhor distância entre dois corpos.
Agora, 1. sin., instante. 2. o exato momento em que a vida acontece. 3. Um flash disparado na imensidão do tempo.
Algoritmo, sin., casulo digital.
Amanhã, é para onde a vida vai.
Amizade colorida, é você pintando a boca pra logo me beijar.
Anacrônico, é quando o passado insiste em viver no presente.
Azul, como tudo fica quando estou contigo.
b
Bagunça, meu quarto depois da passagem de um furacão chamado você.
Bom bom, é você meu bem.
Beijo, são teus lábios molhados, matando a sede que eu sinto de você.
Bobagens, coisas que digo ao teu ouvido, só pra te ver sorrir.
Boletos, pronto, chegou o fim do mês.
Bolha, ninguém entra, ninguém sai.
Brasileiro, haja cachaça.
c
Café, quando um bom dia se espalha no ar.
Cafuné, o filho repousa a cabeça no colo da mãe.
Cardápio, uma leitura apetitosa (por vezes bastante salgada).
Carnaval, é quando a gente põe uma fantasia na nossa alegria e deixa ela desfilar.
Carrossel, meninos cavalgam às voltas com sua imaginação.
Cócegas, chega, eu confesso.
Coisa, serve para muita coisa.
Corpo, o teu.
d
Declaração, Miau! Eu também te amo.
Decote, quando os olhos se lançam num precipício de fantasias.
Demora, um tempo que se perde em ir embora.
Dente de leite, diz-se do sorriso que ainda não amarelou.
Dor, quando o sapato aperta, mas a gente ainda tem muito o que caminhar.
Dormir, juntinhos (de preferência).
Dúvida, uma pulguinha que se alojou atrás da orelha.
e
Eletromagnetismo, o arrepio que sinto na tua presença.
Enamorado, meu jeito de olhar quando você passa.
Escafandrista, quando mergulho fundo numa paixão.
Esperança, o espreguiçar de uma plantinha toda verde ao primeiro raio de sol.
Eu, pronome pessoal e intransferível.
Êxtase, uma noite inteira com você.
f
Felicidade, é um reencontro cheio de saudade.
Filho, é tê-lo, sabê-lo e ainda assim querê-lo.
Folga, a gente rolando na cama sem hora para levantar.
Fome, a minha é sempre tua.
Fotografia, é quando o tempo pára, e a gente passa.
Frêmito, um adeus estrondoso e carregado de lágrimas.
Fuxico, um passarinho verde me contou que o amor brotou no teu peito.
g
Gato, um substantivo, um adjetivo, uma coisa fofa que dá vontade de apertar.
Gauche, um jeito, uma sina, um poema numa dose de conhaque.
Gente, tem gente que é como a gente, já outras são diferentes, mas tem gente que nem parece que nasceu gente.
Geografia, é um estudo físico e (anatômico) que eu me dedico a fazer dos teus vales, montanhas e grotas.
Giz, na calçada um coração com teu nome dentro.
Gooool, uma narração emotiva.
Gota d’água, quando a paciência se derrama toda.
h
Hoje, é o que não convém deixar para amanhã.
Honra, quando a gente dá a palavra e não pega de volta.
Hora, é um tempo que não passa quando estou longe de você.
Horizonte, é onde a vista alcança e os sonhos repousam.
Horror, são dois olhos esbugalhados e encurralados numa palavra assustadora.
i
Infelicidade, um (triste) prefixo que se sobrepôs ao radical.
Instante, 1. o momento em que me lês. 2 um piscar de olhos (e já vamos para o próximo verbete).
Instinto, você por perto e eu logo sinto.
Interjeição, Uau! (foi quando te vi).
Intimidade, tua pele, uma leitura em braile do meu romance predileto.
Intuição, um coração na boca antecipando o porvir.
j
Janeiro, a expectativa de um ano inteiro.
Janela, o sorriso aberto de uma criança.
Jardim do Éden, ceci n'est pas une pomme.
Jiló, eu, te preparando uma receita da minha avó.
Junho, um galho nu treme ao frio da madrugada.
k
Kamikaze, quando me lanço só numa paixão avassaladora.
Kilo, lê-se quilograma, (a)quilo que costuma estar errado ao subirmos na balança.
kkk, a gente trocando memes pelo celular.
l
Lar, é o aconchego da liberdade entre quatro paredes.
Laço, aquilo que me une a você.
Lamento, uma tristeza que não sai do pensamento.
Liberdade, é quando a imaginação vaga solta no pensar.
Livro, é aquele tipo de amigo, que nos encanta com suas histórias.
Luxo, é desfrutar de um dia inteiro ao teu lado (com direito a espumante e telefones desligados).
m
Mãe, prenúncio de infarto.
Malandragem, é um jeito gingado de ser.
Mar, quanto do teu sal não serão lágrimas de amor no cais.
Melindre, deus me livre, ah, mas quem me dera.
Memória, é quando a gente volta ao passado pegando um atalho.
Mexerico, um diz que diz e não digo que fui eu quem disse, já dizendo.
n
Namoro, é quando eu pedi para sermos felizes e você aceitou.
Nós, nós.
Nostalgia, palmeiras, sabiá, flores, estrelas, você; distantes do meu viver.
Novidade, é aquilo que chega causando alarde.
Nuvens, um céu carregado de imagens.
o
Olhar 43, veja só, fui seduzido outra vez.
Orgasmo, nossos corpos em lua de mel.
Orvalho, aquilo que cai de madrugada, seja nas flores, seja nos versos de um poeta.
Ósculo, uma palavra em desuso, mas que eu adoro quando vem da tua boca.
p
Paciência, nove, nove e meio...
Paixão, é o que sinto o tempo todo por você.
Palavra, aquilo que usamos para inventar o mundo ou compor dicionários.
Pneumoultramicroscopicosilicovulcaniconiótico, um palavrão.
Poeta, 1. diz-se daquele que se enamorou das palavras. 2. Inventor de sonhos, 3. “ressignificador” de dicionários.
Preguiça, 1 o som do chinelo arrastando pelo chão, 2. o balançar de uma rede na varanda. 3. uma tarde de verão. 4. tentar argumentar com quem se “adonou” da razão.
Praia, o teu biquíni, me vestiu de fantasias.
Professor(a), posologia 20mg de Rivotril, 3 vezes ao dia.
q
Quanto, interj., espanto.
Quimera, é uma doida fantasia que eu tenho com você.
Quitute, aquilo que chega dar água na boca (ex.: teu beijo).
Queria, uma vontade fria.
Quórum, por falta dele a reunião foi cancelada.
r
Raiva: Bata por 15 minutos e deixe descansar.
Reencontro, é o destino dando as cartas na nossa vida.
Resistência, aquilo que costuma cair no banho, sobretudo, em dias frios e tristes.
Ronronar, é um motorzinho funcionando a plena felicidade.
Rotina, é o que se quebra de vez em quando para reparar os dias.
s
Sábado, é o dia de tomar banho para esperar a felicidade.
Sarcasmo, é um insulto inteligente, por vezes, inteligível a quem se destina.
Satisfação, você desfilando em frente ao meu portão.
Sexo, todo o desejo metido entre duas sílabas.
Solitude, é quando a gente se basta.
Sonho, despertar contigo a minha vida inteira.
Sorte, é receber um sorriso teu na loteria da vida.
t
Tabu, uma tábua de condenações rasas.
Tatuagem, na minha pele a indelével marca da tua digital.
Tecitura, é quando os fios da nossa vida se entrelaçam ao tear do destino.
Tempo, quero gastá-lo todo com você.
Toque, é o feitiço de suas mãos sobre meu corpo.
u
Umbigo, quero o seu colado no meu.
Unguento, substância usada para tratar e perfumar o corpo. Ex.: quando você esfrega sua pele na minha.
Urgente, med. uma transfusão de coração de pedra para um coração apaixonado.
Usucapião, é quando você toma posse do meu coração
v
Vanguarda, é um futuro hoje.
Verdade, está sempre escondida e quando a gente pensa que achou, é mentira.
Véspera, é o amanhã começando hoje.
Vício, praia, café, poesia, você.
Vida, aquilo que passa enquanto muita gente pasta (ou posta).
Você, o que mais poderia ser, se não a razão do meu viver.
Vontade, bastou você existir para eu ter.
w
W, é o “v” que se vê depois de muito “winho”.
Wi-Fi, meu sinal está sempre aberto para sua conexão.
WC, é quando a gente pode até não saber inglês, mas não se aperta.
x
Xenhenhém, são meus dedos molhados em você meu bem.
Xícara, recipiente usado para despejar amor no café da manhã contigo.
Xodó, o que você é pra mim.
y
Yakisoba, pra comer é dois palitos.
Yin-Yang, você e eu na mais perfeita sintonia.
z
Zigue-zague, é a gente voltando de uma festa, rindo alto e cruzando os passos.
Ziriguidum, um feitiço lançado através dos teus quadris.
Zum-zum-zum, diz-se de uma onomatopeia muito indiscreta, do tipo fuxiqueira e enxerida, fazendo ruídos sobre nossa vida.
Zureta, basta você passar para eu ficar.
Biografia
O autor destes vocábulos poéticos vive caçando palavras a fim de (re)significar o seu mundo. Quando nem o Aurélio nem o Houaiss dão conta de exprimi-las, então, ele os recria a seu modo. Na sua concepção as palavras não se limitam aos significados convencionais, são livres e viajam soltas das amarras de sentido que usualmente costumam ser empregadas, ganhando novos contornos, seja de humor, afeto ou espanto.
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