Passando a Faixa


O fim do mundo estava próximo, pelo jeito que as coisas iam não haveria mais fuga. Os homens se deparariam com um tribunal constrangedor e implacável, e ele, por ser rebelde e subversivo, teria que lutar até sua acachapante derrota com Deus pai todo poderoso no último ato do juízo final.

Se sua derrota já estava certa e anunciada, de modo que ninguém apostaria um só vintém em sua vitória, por que diabos, ou melhor, por que ele, o diabo, teria que lutar? Aquilo sim lhe pareceu cruel, injusto e covarde. Pense você, o “magrela” da escola, tendo que acertar as contas na hora da saída com o grandalhão que o jurou de morte pelo simples fato de você desobedecer aos seus mandos e desmandos. Definitivamente isso era o fim do mundo.

Novamente teria que infringir as regras, uma vez transgressor, sempre transgressor. Não seria lançado num lago de fogo para queimar por toda a eternidade e satisfazer o sadismo de uma plateia de puxa-sacos divinos que torceriam pelo seu fatídico fim. Isso não, já não bastava ter que viver no inferno, um local quente, abafado e insalubre, por toda a eternidade. Decidiu que não passaria por outra humilhação como da primeira vez que teve de descer com o rabo entre as pernas feito um cão chutado para fora de casa. Porém, a questão agora era como evitar seu trágico destino.

Sabia que ainda tinha algum tempo, mas precisava ser rápido e ardiloso, pois com Deus não se brinca. Deus era um velho muito esperto, suas barbas estavam sempre de molho, não seria enganado facilmente. Tentar persuadi-lo também não daria certo, já havia tentado em vão essa estratégia por quarenta dias naquele deserto escaldante e nada, aquilo morreu na areia. Deus era um cabeça-dura, quando encasquetava com algo não tinha o que lhe tirasse do propósito, não mudaria o script, além do que, já estava cansado das intromissões do diabo.

Mas o tinhoso também era ladino. Pensou, pensou até que lhe veio a seguinte ideia: Se ao invés dele, Deus encontrasse outro rival de igual fama, porém ainda mais perverso, algum que pudesse cometer o mal de forma atroz, cruel e estúpida? E que ainda falasse em nome Dele para cometer tais delitos, crimes e genocídio? Que fosse cidadão de bem e com arma em punho ameaçasse metralhar o vulgo inimigo? Que sendo cristão e pai de família cumprisse umas três vezes o Santo Sacramento do matrimônio, sempre com uma esposa mais jovem e devota, dessas que não se distraem com erudição? Que colocasse Deus acima de tudo e a si mesmo acima de todos? Que liderasse um exército de ignóbeis, uma choldra bestial rumo ao juízo final?

Tudo isso o diabo planejou.

Depois vieram as eleições.

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