Fugitiva

 A palavra lhe fugiu dos lábios deixando-o em mudo silêncio. Procurou em suas lembranças, mas não sabia como chamá-la. Arrependido, pensou que não devia ter confiado tanto, afinal ela sempre foi muito saidinha e um tanto quanto volátil. Em que bocas havia se metido? A quem se entregara agora de maneira fortuita e casual? E, sobretudo, será que voltaria à segurança de seu vocabulário, prometendo nunca mais abandoná-lo? Aflito, foi ao dicionário na esperança de encontrá-la. Eram tantas as palavras, mas nenhuma delas sabia de seu paradeiro. Cada uma dizia uma coisa diferente. Confuso, fechou-o. Talvez a resolução de um caça-palavras o ajudasse, mas nem isso. Solitário e resignado apanhou um romance na cabeceira de modo a se distrair daquela preocupação. Pois não é que ali, em meio a uma narrativa de encontros e desencontros, foi que, inesperadamente, reapareceu sua palavra? De súbito, fechou o livro e pensou: “Daqui você não me escapa mais.”


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