Chamada de Emergência
Entrei no ônibus, me sentei e tomei o celular, companheiro fiel de todas as horas do meu dia. Olhei fixamente para sua tela, de forma hipnotizada, mas não sem me dar conta de estar sentado à janela. Sempre a preferi em relação ao corredor. Não que necessariamente eu olhe para fora tendo o telefone em mãos, contudo, mesmo que alheio à paisagem, eu gosto de sentir a brisa que bate em meu rosto tão disperso quanto meus pensamentos.
Nesta minha última viagem tive um
comportamento um pouco incomum, me peguei de súbito detido na hipótese de
lançar o aparelho para fora, o mais longe que eu pudesse. Num impulso, minhas
mãos se agarraram firmemente a ele e, quanto mais eu pensava em arremessá-lo,
mais forte o prendia entre os dedos. Ninguém que estivesse ao meu lado poderia
imaginar minha aflição, não havia quem pudesse intervir. Suava frio e sentia
mesmo um leve tremor no corpo, um ranger de dentes. Aquela angústia evoluiu
para um desespero. Foram instantes de aflição dentro daquele ônibus, eu não
sabia se meu celular sairia inteiro ou se nunca mais encontraria seus pedaços.
Felizmente ele começou a chamar ao mesmo tempo em que vibrava cada vez mais
forte, inquieto, escandaloso. Atendi. Era do consultório psiquiátrico se certificando de
que eu ainda tinha aquele telefone e me advertindo das consultas em atraso.
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