Foi num sonho que Deus lhe revelou que ele teria só mais um dia de vida. Quando acordou, a primeira coisa que pensou foi no que faria com aquele seu último dia. Tomaria um avião e, enfim, viajaria para conhecer a Europa, ver a Mona Lisa no Louvre, subir a Torre Eiffel, caminhar às margens do Sena, mas nem passaporte ele tinha e, se não dava para viajar, quem sabe se ele surtasse, mandasse tudo à merda, lançando para fora o que levava engasgado há anos e não podia cuspir, afinal tinha uma vida para ganhar, mas só o que ganhou foi uma gastrite que evoluiu para uma úlcera nos últimos tempos e agora, com o pé na cova, tinha medo de não se libertar, de não perdoar, dizem que o perdão salva, nessa hora só o que queria era a salvação, pois tratava-se de um homem devoto. Talvez estivesse ficando louco e até andaria pelado por aí, totalmente livre, mas se sentia preso às vergonhas e aos complexos de aparência e de virilidade. Diabos, nem na hora da morte se livraria de suas amarras. Pensou e...