Outras Lições

Quase tudo que aprendeu na escola não levou para a vida. Não sabia onde se colocar:  Colocou-se num emprego repetitivo e estafante. Precisava viver. Sobreviveu. As lições agora eram outras, não havia recuperação paralela. As notas baixas foram substituídas por salário mínimo. Suas faltas agora eram descontadas do seu pagamento, apenas os atrasos continuavam seguidos de advertência: a cada três, uma falta e, o salário que já era baixo achatava-se ainda mais no fim do mês.  Certa vez, ao passar em frente à escola lembrou-se do tempo em que estudava lá. Suas lembranças se limitavam às brincadeiras de infância, aos velhos amigos, à professora Gertrudes e a um amor que não durou um semestre. Tudo que havia aprendido se resumia em saber ler, desde que não houvesse palavras difíceis para atrapalhar. Escrevia, com alguns erros é verdade, mas ninguém era perfeito mesmo. Fazia as quatro operações, mas não entendia a fórmula da regra de três e detestava quando se misturavam letras e números numa operação, acreditava que essa mistura era só para complicar. Complicada mesmo era sua vida. Agora adulto, tinha mulher e filho para criar, desejava conhecer o mundo, jamais saiu da cidade em que nasceu. O aluguel na periferia era o que dava para pagar. Tinha uma CG 125 financiada em umas trocentas prestações, mas já havia pago quase a metade. Pelo menos não precisava pegar ônibus que estava sempre cheio e atrasado, só era ruim quando chovia, sempre tinha duas sacolinhas de supermercado para situações como essas e nos dias de inverno o jornal no peito evitava o resfriado. Acreditava que a escola da vida era mais eficaz, apesar de rígida. A primeira era uma chatice e só fazia repetir conteúdos complexos e sem sentido, a outra era real e factível: ou você aprendia ou já era. Isso sim fazia sentido. Já a álgebra...




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