Resenha: As fantasias eletivas
Esta resenha foi feita em homenagem ao escritor catarinense Carlos Henrique Schroeder ganhador do prêmio Cruz e Souza 2016 com sua obra As fantasias eletivas. Parabéns Santo de Casa!
O livro As fantasias eletivas de Carlos Henrique Schroeder, obra
recomendada para o vestibular deste ano, me foi apresentado, por um amigo e
também professor de literatura, em um bar da Avenida Brasil em Balneário
Camboriú. Daquele momento em diante minha atenção e interesse foi focado nas
envolventes páginas de sua narrativa que me serviram de companhia entre um
chope e outro até a última letra do alfabeto, conforme a ordem narrativa.
Mas do que trata As fantasias eletivas? Apesar da boa
companhia sua temática é a solidão. Nela Renê um recepcionista de hotel que
trabalha no turno da madrugada lida com seu passado de percalços, com hóspedes
argentinos, brasileiros e paraguaios, prostitutas e travestis que movimentam a
portaria, a economia e o cotidiano da principal cidade turística do litoral
norte de Santa Catarina.
Mr. Álcool como é conhecido
pelos demais colegas de ofício, por estar sempre limpando as superfícies de
onde trabalha, leva uma vida de conflitos familiares, afastado de seu filho, enfrenta
uma separação e a reprovação da mãe por erros do passado. Diante de seus
fracassos chega a pensar em suicido, mas é recusado, inclusive pelo mar que o
cospe de volta a areia, não deixando a ele outra opção a não ser levantar e
continuar.
A narrativa fragmentada conta
um pouco da cidade e sua sazonalidade turística e, algumas das características
mais marcantes de Balneário Camboriú em alta e baixa temporada. Descreve-se
hábitos peculiares de quem a vista e lugares que só quem mora pode
identifica-los, e assim, através de recortes numa narrativa não linear o autor
mistura prosa, poesia, fotografia, humor e drama para montar seu mosaico
narrativo e contar de modo bastante original uma historia que em parte se
mistura as próprias experiências do autor que afirma já haver sido
recepcionista de hotel.
Outro personagem fundamental
a trama é Copi, travesti argentino, que trabalha nas noites da cidade, e que se
aproxima de Renê primeiramente por uma questão comercial, pois quer o
recepcionista indique seu trabalho aos hospedes, mas que depois de uma rusga
inicial passam a desenvolver uma relação mais estreia de amizade e cumplicidade.
Intelectual, sensível e solitário, Copi escreve poesias e ama a fotografia na
qual é capaz de captar a solidão das coisas através de sua máquina Polaroide, e
revelar sua alma solitária em meio à singularidade de suas imagens.
A solidão que transborda em
Copi, se assemelha a de Renê e até mesmo a nossa, a triste e melancólica
condição humana. Afinal não importa o quanto estejamos cercados de pessoas
sempre seremos seres solitários e sensíveis a esta condição muitas vezes
angustiante. O livro é poético e se encaixaria também num bom roteiro para o
cinema para ser contemplado só ou em boa companhia. Fica aqui a expectativa.
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