Linhares o Presidente do Brasil

 

Já a algum tempo quando eu ainda era acadêmico de Letras conheci o Linhares, um sujeito afrontoso e desagradável até no cheiro. Tinha uma fala ríspida e agressiva combinada com as cusparadas esbravejantes que lançava em seus interlocutores. Era dado a uma pseudo erudição e buscava no dicionário palavras arcaicas para espalhá-las em seus soníferos sonetos. Julgava-se um artista incompreendido e acreditava que a vida no exterior lhe daria o prestígio que tanto merecera. Tirava notas regulares suficientes para não reprovar, mas julgava os professores biltres e ignóbeis incapazes de acompanhar a complexidade de seu pensamento e a genialidade de seu talento.

Eu que na minha ingenuidade não ligava para seus rompantes acalorados até o achava engraçado e me compadecia da exclusão que vinha dos demais colegas e da aversão que lhe tinham os professores. Lia alguns de seus cansativos poemas e o convidava a participar dos trabalhos em grupo quando percebia que todos o isolavam. No fundo ele me causava pena.  

Passou o tempo e saímos da faculdade, tornei a vê-lo uma que outra vez sempre falando tolices com a mesma empáfia que lhe caracterizava. O Linhares via o mundo a partir do seu próprio umbigo e de suas frustrações, acreditava ser o que jamais seria e com isso foi se tornando cada vez mais amargo e agressivo. Nas redes sociais sua agressividade potencializava, e nem eu, suposto amigo, fui perdoado de seus ataques de ira. Ofensas repentinas e gratuitas se davam sempre que qualquer postagem minha ou de quem quer que fosse contrariasse sua parcial e estreita visão de mundo.

 Era um paladino da justiça, detentor da verdade e sua missão era extirpar o mal e a corrupção que assolavam o país. Lembro-me da confusão que presenciei quando da vez em que ele tentou furar a fila para a vaga de emprego temporário de professor. Novamente senti pena do Linhares. Percebi que a corrupção é um problema endêmico, mas que ninguém assume. A culpa é sempre do outro, nunca é nossa.

Mais tarde percebi que iguais ao Linhares há muitos, milhares, milhões de eleitores prontos a depositar o seu voto em alguém que os represente que seja intolerante, agressivo, estúpido que lhe falte empatia, carisma e sensibilidade. Alguém misógino e preconceituoso, inflexível ao diálogo, unilateral, excludente, doente e corrupto.

 Pela primeira vez não tive pena do Linhares, tive pena de mim, e de tantos que tiveram seus direitos negligenciados, sua liberdade obstruída, suas vidas ceifadas de maneira tão absurda, estúpida e infame. Desta vez a piada do WhatsApp não teve graça. O Linhares deixou de ser um caricato, virou candidato, venceu as eleições. E quem perdeu? Quem perdeu foi a democracia, foram os direitos humanos foi a consciência cidadã, a ciência, a ética e a estética. Quem perdeu e muito foi a nossa pátria amada e vilipendiada Brasil.

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