Dia de Santo
Era um santinho sendo levado pelo
vento, pisado por sapatos sujos e desprezado à beira de um bueiro entupido por
centenas de outros concorrentes numa disputa acirrada, cara e, por vezes, suja.
"A vida é dura” pensava ele naquela situação tão baixa, tão vil, ali na
boca do esgoto e com a cara amassada no chão. Seu sonho era estar protegido numa
confortável carteira Louis Vuitton
juntamente com dinheiro e cartões de crédito e débito, valorizado como um bem
maior, importante como só os eleitos. Porém, ali na sarjeta, o que poderia
esperar como fim? O tempo começava a fechar e com a chuva viria a enxurrada,
então ele seria levado como um lixo qualquer, misturado às xepas de cigarro,
cascas de banana e papéis de bala que desaguariam no obscuro subterrâneo onde
se acumulam os dejetos da cidade. Logo ele, um santinho, desceria ao inferno da
podridão humana. “Quanta decadência, meu deus!” Porém, era domingo, dia de
eleição, ouviu passos se aproximarem, alguém se abaixou para apanhá-lo. Um raio
de sol surgiu por entre as nuvens. Seu destino, prontamente, iluminou-se.
Aquele era seu dia de sorte, um autêntico dia de santo.
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