Ajustou bem o nó para que não se soltasse, subiu na cadeira com todo o peso do mundo, pela memória desfilavam recordações de uma vida efêmera e vazia, possuía uma esposa que nunca amou, filhos bastardos que mal conheceu, dois meios-irmãos com quem nunca se entendeu, um pai que não constava na sua certidão de nascimento e uma mãe que jamais se lembrou da data do seu aniversário. Tinha um emprego enfadonho e mal remunerado em que nunca recebeu qualquer reconhecimento pelo seu empenho. Uma vez por mês frequentava um prostíbulo na periferia da cidade onde deixava parte do ordenado em troca de uísque paraguaio e de prostitutas tão roliças como uma escultura de Botero. Atribuía ao álcool a enxaqueca do dia seguinte. Certa vez, leu num livro de poesia que o homem é do tamanho do seu sonho, sonhava ser tanta coisa que acabou sendo coisa nenhuma. Não havia nascido para a glória, dava-se melhor com o fracasso, sentia-se parte de uma multidão de condenados que vagam a esmo, esperand...