A escola da minha época


 Na minha época a escola era um pouco diferente do que é hoje. Havia alunos excelentes, bons, razoáveis e eu. Também havia professores bonzinhos e outros nem tanto, adorávamos o pátio, a biblioteca e o refeitório, até a sala de aula era divertida dependendo da professora, porém a direção era vista como um local pavoroso, uma espécie de tribunal da inquisição para onde mandavam todos aqueles que não sabiam se comportar. Tínhamos mais medo da direção que das casas mal assobradas que existiam naquela época. O diretor era o ser mais assustador de toda a escola e ninguém se atrevia a encará-lo de frente. Ao contrário esquivávamos de sua presença sempre o víamos.  

Na escola aprendíamos as letras, os números, educação moral e cívica, OSPB e mais um montão de coisas que não sabíamos bem ao certo para quê? Decorávamos a tabuada, as capitais e as declinações verbais, no inglês o verbo to be, infelizmente não era o de Shakespeare. Já a série Vaga-Lume iluminava nossa imaginação.

Meu sonho sempre foi ter um Kichute, que era uma mistura de tênis com chuteira de borracha e cadarços que davam a volta no tornozelo, vinha apenas na cor preta e era uma febre entre os garotos da escola. Eu também os desejava, mas minha mãe tinha predileção pelo Conga ou chinelos Havaianas (naquela época bem mais baratos) e que continuaram sendo de sua preferência mesmo quando, mais tarde, surgiu a febre do All Star.

Na hora do recreio, chamávamos assim o intervalo, jogávamos “bulica” que é outro nome para bolinha de gude, o que poderia desencadear na terceira guerra mundial caso o jogo fosse “as ganhas”. Pega-pega, pique esconde, amarelinha e até pular elástico, com meia calça rasgada a gente pulava. Também batíamos bafo com as figurinhas de chicletes e jogávamos “tampincross” com tampinhas de refrigerante. Mas o futebol era a nossa maior paixão. Naquele tempo uma bola resumia toda a felicidade de um garoto ou de um time de garotos nas quadras ou campos improvisados de qualquer escola deste país.

“Ouviram do Ipiranga as pernas abertas, deitado numa cama sem coberta”, essa era nossa versão não oficial para o hino nacional, cantada enquanto hasteava-se a bandeira na semana da pátria. Ficávamos ali cantando e disfarçando enquanto a professora invocada tentava sem sucesso encontrar o responsável por aquela desrespeitosa e vexatória paródia de Joaquim Osório Duque Estrada. Outras paródias também faziam sucesso na boca da garotada, o hino da Independência era pura indecência, o que nos tornava pouco patriotas, mas um tanto criativos.

Namoro na escola era a maior porcaria, começava no corredor e terminava na diretoria já dizia o refrão. Então, evitávamos os corredores e íamos para trás da escola, naquela época os amantes eram vigiados e o beijo proibido. Motivo de uma longa conversa na temida diretoria. Porém, sabendo que tudo que é proibido é mais gostoso a gente se arriscava a roubar beijos estalados, apaixonados e inesquecíveis.

Havia um assustador fantasma nos meus tempos de escola que se chamava: “Entrega de boletim”. Naquela época os boletins eram bi colores, ou seja, vinham com nota azul para quem estivesse acima da média, e nota vermelha para quem estivesse abaixo. Acho que não preciso dizer o quão coloridas eram as minhas notas. Minha mãe sabendo do meu baixo desempenho aplicava-me um corretivo chamado “vara de marmelo”. Costumava não fazer efeito, mas mesmo assim ela insistia no tratamento.

Pensando bem, na minha época a escola não era muito diferente do que é hoje, cheia de gente, conflitos, saberes e sabores. Tudo bem que houve algumas mudanças, pois tudo muda nessa vida. A moda, os hábitos, as formas de linguagem, as gerações e também a escola. Essa instituição tão sagrada e por vezes profanada por quem ainda não aprendeu que ela um é lugar de conhecimento, de sonhos e revolução.  A escola é também um espaço de memória, afetos, curiosidade e descobertas. Seja ela da minha, da sua ou de qualquer que seja a época.

 

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