Esferográficos

Gosto de contemplar o esgoto, me sentir conectado a vida de merda que levo. Os dejetos humanos contaminando a paisagem, talvez por isso, Deus em sua infinita sabedoria nos expulsou do paraíso. O mundo é um absurdo com suas complicações, pequenas neuroses, ambições mesquinhas e vazio existencial. Evoluímos tanto e tão pouco. Chegamos até aqui para isso? Olho o lago como quem busca respostas, mas não as encontro apenas sinto, sinto o cheiro fétido que me irrita as narinas, um nauseante mal estar, causado pela descarga do meu banheiro, do seu, de todos os banheiros que se misturam às águas plácidas que a poucos quilômetros daqui nascem pura e cristalina antes de serem contaminadas por gente muito caprichosa, asseada e limpinha. Todos esses pensamentos invadem minha cabeça assim como a fome invade meu estomago, então abro meu sanduíche e ali mesmo junto àquela bucólica paisagem decadente faço o meu piquenique. Por trás da preta fumaça que encobre a cidade o entardecer segue sendo um belí...

1. Procura-se radialista que sintonize com a minha frequência. 2. Procura-se marido de aluguel para reparar estrago na minha vida afetiva. 3. Procura-se confeiteira para adoçar a minha vida. 4. Procura-se cardiologista para remediar meu coração. 5. Procura-se encanador que me dê um beijo de desentupir pia. 

Tudo começou com um like depois outro like e então um match. Num instante já estavam conectados, no outro, já eram íntimos. Desnudaram-se. A paixão foi viral, virtual, vertiginosa.   Mensagens de áudio, texto e vídeo, eram tão próximos que nem pareciam tão distantes. Conectavam-se todos os dias, manhã, tarde e noite.   Nos intervalos sentiam saudade. O Tinder foi por hora abandonado, mas não desinstalado. O que se instalou aos poucos foi à insegurança que trouxe a desconfiança e o ciúme para viverem entre ambos. A paixão incomodada foi-se embora, levando consigo todas as ilusões e deixando só o vazio que foi rapidamente preenchido pelo mesmo aplicativo de relacionamento.

Este, alem de tudo, fedia.

Você está louca? Foram suas últimas palavras.

Foi só estudar.

Nada mais difícil.

Aqui jaz minha esperança.

Ao dormir com a cunhada demonstrou ser um cara de família.

Foi a maior criação.

Era um jeito feio, mas bem arrumadinho.

Não tendo nada a perder, perdeu-se.

                                                                                                           

Conheci-o no churrasquinho.

Acreditando na vida após a morte, decidiu dar um up. 

O último saltou cinco minutos antes do amanhecer.

Morrer de medo de agulha foi o fim da picada.

A carpideira roubou a cena.

E com a língua eu faço o quê?

Não podia com espelhos.